Durante o Legal Conference 2020, o sócio e diretor executivo da upLexis, Eduardo Tardelli, discutiu a adoção de Big Data e as novas soluções em tecnologias voltadas à gestão jurídica e aplicadas nos departamentos e nos escritórios de advocacia.
Quem é o palestrante
Eduardo Tardelli é um empreendedor visionário, sócio e diretor executivo da upLexis, empresa de tecnologia referência no mercado de soluções de Big Data para Risco e Compliance.
Atualmente, é responsável pelas decisões estratégicas da upLexis e pelas inovações tecnológicas dos produtos e serviços Data Driven da empresa envolvendo Big Data, Analytics e Inteligência Artificial.
Vale a pena aplicar a tecnologia em mercados tradicionais?
A trajetória de Tardelli responde muito bem a esta questão. A upLexis nasceu em 2005 da necessidade de capturar dados nos Diários Oficiais, atendendo, principalmente, escritórios de advocacia e OABs (Ordem dos Advogados do Brasil).
Posteriormente, a empresa evoluiu sua tecnologia para o atendimento de outras demandas como a busca de dados em Tribunais de Justiça, Receita Federal, mídias sociais, Google, entre outros.
A partir disso, a empresa criou a plataforma upMiner, que agrega dados de uma centena de fontes. A proposta é facilitar a tomada de decisão de advogados, gestores jurídicos, compliances officers, auditores, investigadores de dados, entre outros.
De olho na transformação digital do direito, Tardelli também é membro e conselheiro da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), entidade que nasceu em 2017, e que hoje reúne mais de 200 lawtechs e mais de 100 escritórios de advocacia, entre outros players deste ecossistema.
O objetivo da entidade é apoiar o desenvolvimento de empresas que ofereçam produtos ou serviços inovadores por meio do uso de recursos tecnológicos para a área jurídica. Além de fomentar o crescimento deste setor, estimulando as melhores práticas profissionais.
Com uma bagagem profissional tão rica, Tardelli falou sobre a aplicação da tecnologia no direito e como ela veio para auxiliar e criar outras oportunidades de mercado.
Assista agora a palestra completa de Eduardo Tardelli!
Como você vê a adoção do Big Data no mercado jurídico?
“Como já estamos nesse mercado há 15 anos, temos percebido um aumento da demanda, especialmente, nos últimos cinco.
O advogado, por natureza, sempre foi reticente quanto ao uso de tecnologias que mudassem sua forma de trabalhar, pois muitas vezes, o escritório passa de pai para filho. Mas, isso tem mudado. Um exemplo disto é que temos visto um aumento no interesse deste público em eventos voltados para a área jurídica em busca de novidades.
Há três anos existiam cerca de 30 a 40 lawtechs. Hoje são mais de 200 e todos os meses surgem novas empresas. Isso se deve à tecnologia, que tem virado uma commodity.
Vemos hoje uma grande suíte tecnológica como AWS, Google Cloud, IBM Watson, Azure, nos quais existem diversos serviços já prontos, tipo ‘plug and play’, para serem aplicados em uma necessidade real de negócio.
Isso favoreceu muito o mercado de inovação e trouxe diversas soluções para o dia a dia do advogado, agregando agilidade, eficiência e mais controle na gestão.
Mas, é preciso lembrar sempre que a tecnologia é um meio e não um fim. É sempre preciso ter a inteligência humana por trás.”
Quais são as soluções capazes de transformar o departamento jurídico ou o escritório de advocacia?
“Como um mínimo necessário, ambos precisam ter um sistema de gestão para escritórios e departamentos jurídicos. São ERPs voltados, especificamente, para esse meio. Neles, é possível inserir contratos, acompanhar processos, alocar timesheets, ‘amarrar’ os pagamentos, entre outras atividades.
Existem outras soluções que complementam esse universo como as ferramentas de monitoramento dos Tribunais e Diários Oficiais, onde são publicados os processos. Lembrando que um departamento jurídico ou um escritório pode trabalhar com 1 ou mais de 10 mil processos. Para lidar com esse volume, é preciso ter eficiência para cumprir os prazos e procedimentos, minimizando as falhas humanas.
Existem também as ferramentas de resolução de conflitos online, que é algo relativamente novo e que permite fechar um acordo, muitas vezes, evitando a esfera jurídica, o que traz ganhos para o cliente e para a justiça, já tão sobrecarregada.
A justiça brasileira tem o maior Diário Oficial do mundo e a maior quantidade de processos. Esse cenário tende a ficar cada vez mais crítico, pois a transformação digital oferece eficiência e a melhora da produtividade das empresas e escritórios, mas, ao mesmo tempo, esse movimento sobrecarrega os tribunais e o governo, que estão se transformando, mas em um ritmo diferente.
Existem também as ferramentas de descoberta de informações, que ajudam o profissional a buscar somente o que é relevante para a sua tomada de decisão.
Também encontramos as ferramentas de automação e gestão de documentos jurídicos (GED) que facilitam o acesso desse legado. Temos ferramentas de acompanhamento de legislação e projetos de leis, que ajudam os profissionais a compreenderem os respectivos riscos e impactos que podem ser gerados no negócio da empresa.
Existem ferramentas de projeções de gastos jurídicos que ajudam a fazer provisões e a desenhar cenários e estratégias baseados em dados históricos.
Tem também a jurimetria e analytic, que permite a extração de dados, informações, indicadores e tendências. Este é um mercado muito promissor, na minha opinião.
Posso citar também as soluções de smart contracts, que trazem agilidade no preenchimento de contratos, laudas, petições, entre outros. De forma mais futurística, elas deverão preencher contratos automaticamente com a ajuda de variáveis pré-definidas, sem a necessidade de interações.
Já com o blockchain, reduziremos os diversos elos na burocracia, já que as partes poderão interagir com segurança, sem a necessidade de intermediadores.
Para finalizar, posso dizer que existem outras coisas surgindo, como a inteligência artificial, que tem muito mais a oferecer do que já estamos vendo”.
Com base na sua experiência, qual stack de ferramentas funciona melhor na perspectiva de inovação e uso de Big Data?
“A perspectiva muda a partir do Covid-19. Mas, dentro de um contexto ideal com relação à automação e digitalização de um departamento jurídico e/ou escritório de advocacia, vejo como essencial um bom sistema de gestão, que integre os Tribunais e Diários Oficiais, além da gestão do financeiro, de documentos (GED) e workflow.
O departamento jurídico interage com diversas áreas da empresa. Hoje, todos estão trabalhando a distância, por isso, é preciso ter ferramentas que permitam o registro de todas as atividades. Para isso, contar com a segurança e a mobilidade da (armazenagem) na nuvem é essencial.
Também vejo que a adoção de ferramentas para vídeo conferência, além das soluções de comunicação e gestão de projetos como o Slack, o Microsoft Teams e o Google Meets veio para ficar.
As decisões serão cada vez mais ‘data-driven’, por isso, haverá mais espaço também para as ferramentas de busca e validação de dados, geração de insights e relatórios.
Para quem tem muitos processos no contexto trabalhista pode-se usar as ferramentas de mediação online, além da jurimetria para fazer provisionamentos e para a construção de estratégias jurídicas.
Quem tem um volume grande de dúvidas jurídicas para serem respondidas, pode implementar chatbots. Muitos já estão evoluídos e direcionados para o contexto jurídico”.
Em termos de tecnologia para a área jurídica, o que você acredita que veio para ficar no cenário pós-COVID?
“Todos estão pensando hoje em redução de custos e em como ser mais eficientes. Nesse cenário faz sentido ter um escritório 100% digital para permitir trabalhar de qualquer lugar.
O advogado precisará ser mais aberto às novas tecnologias e se reinventar tanto na busca por clientes no universo virtual, como no atendimento de clientes a distância.
Outro movimento interessante é que existem departamentos jurídicos que estão trabalhando a inovação se aproximando do (formato) das startups, criando equipes (multidisciplinares) com profissionais de direito e, também, de outras áreas como cientistas de dados e programadores.
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Essa palestra fez parte do conteúdo do B2B Legal Conference 2020, o maior evento online jurídico da América Latina, que contou com mais de 15 palestras com experts da área e discutiu as transformações do setor e como os profissionais podem acompanhar as mudanças.