Lawtechs e as novas tecnologias no departamento jurídico no Brasil

Publicado em 28 de setembro de 2020

Capa artigo Daniel Marques

Na palestra, durante o Legal Conference, Daniel Marques, Presidente da AB2L, Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs abordou o impacto das lawtechs, juntamente com a importância da inclusão de novas tecnologias para a inovação no mundo jurídico. Marques também aponta as inevitáveis mudanças na comunidade jurídica no Brasil.

Quem é o palestrante?

Daniel Marques, além de presidente da AB2L, também é um apaixonado por promover a relação entre filosofia, direito, empreendedorismo, novas tecnologias, e como isso pode gerar ações positivas para a sociedade. É bacharel em Antropologia Filosófica e Ética, além de ter Mestrado em Filosofia da Ciência e da Cultura. Possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV-RJ.

Assista a palestra na íntegra:

Por que falar em tecnologia aplicada ao Direito é importante?

“A AB2L nasceu justamente no momento em que a sociedade exigia uma inovação tecnológica. Quem ainda duvidava sobre a necessidade desta transformação chegar até os departamentos jurídicos, escritórios de advocacia e tribunais, neste período de quarentena, viu essa dúvida cair por terra. 

Estamos vivendo uma transformação, um novo modo de pensar o Direito. Existe um conceito presente no livro “Organizações Exponenciais”, que descreve uma transformação que está acontecendo de forma geral e que tem causado impactos na sociedade. Essa transformação vai além de vender algo a alguém, compreende também, a necessidade de tornar os clientes em fãs.  

Devemos considerar que todas as empresas de tecnologia que cresceram rapidamente nos últimos anos tinham em comum o “Propósito Transformador Massivo”. 

Na AB2L queremos conectar todo o universo jurídico a essa nova realidade exponencial que vivemos. Acreditamos que a união do Direito às novas tecnologias irá beneficiar a sociedade”.

Quais são as premissas básicas da transformação do Direito?

“Até ontem, o advogado conseguiu exercer sua profissão sem usar tantas ferramentas tecnológicas, ao contrário de outras atividades que já nasceram em um mundo novo. Mas isso mudou. 

O primeiro ponto que devemos considerar nesta mudança é que o mundo está sendo ‘hackeado’. As novas tecnologias estão aí. Não tem como frear. E sempre que algo novo surge, o advogado precisa ser envolvido. 

Por exemplo, os carros autônomos, que já estão impactando a questão do Direito e a Responsabilidade Civil. Podemos citar também as impressoras 3D, a gameficação da sociedade, a realidade virtual aumentada, o blockchains e a inteligência artificial. 

A segunda questão é que o mundo do Direito é essencial para a sociedade, mas a sua complexidade o impede de chegar até as pessoas. Nunca antes isso havia sido questionado. Para se ter uma ideia, temos hoje 1 milhão e 800 mil advogados no Brasil, o dobro do número de médicos e contadores. Temos 91 tribunais e mais de 100 sistemas diferentes rodando que não se comunicam entre si. 

O terceiro ponto é que o mundo está cada vez exigente. Mais do que nunca os produtos e serviços são construídos junto com as pessoas. 

A tecnologia é uma aliada nessas três premissas, pois permite uma atualização para que o Direito chegue a todas as pessoas e crie uma experiência para todas elas. Nesse período de quarentena, por exemplo, tudo isso ficou muito evidente”. 

Quais são as características da quarta revolução industrial que impactam a sociedade e, principalmente, o universo jurídico?

“Trata-se não apenas de um conjunto de mudanças, mas sim de uma mudança de época. Se não entendermos isso, vamos encarar como algo passageiro. Precisamos tomar as atitudes corretas e nos livrar dos saudosismos. 

Não é que as coisas essenciais deixarão de existir. Mas, o modo que essas coisas são feitas é que mudará. 

Existem algumas características específicas da quarta revolução industrial como a velocidade na adoção das tecnologias. Porém, os modelos jurídicos existentes hoje já não estão mais respondendo a essa velocidade. 

Outra característica é que não existe mais ‘status quo’. O poder tem mudado de mãos de uma maneira muito rápida. As startups, que são capazes de andar em um mundo cheio de incertezas, são prova do que estamos vivendo agora. Existem inúmeros exemplos de empresas grandes que perderam relevância nos últimos anos. 

Outra questão é que estamos mais conectados que nunca. No Brasil existem mais celulares que pessoas, cerca de 70% da população tem acesso à internet. Se um produto não está dentro desse mundo, já está ultrapassado. 

A exponencialidade é uma outra diferença. E dentro deste aspecto, estão a digitalização e a disrupção de um mercado. Esses elementos levam à lógica da ‘desmonetização’, que no mundo digital funciona de um jeito diferente que no mundo analógico. Quanto mais as pessoas usam um produto, mais barato ele fica. 

O Direito pode ser digitalizado e ter o seu acesso ampliado nesse mundo novo. Ele pode chegar até à ‘democratização’. É possível usar as lawtechs para apoiar essa transformação dentro dos escritórios de advocacia e departamentos jurídicos. 

Quem quiser conhecer mais sobre esse ecossistema, pode acessar o site da AB2L, no ‘radar dinâmico’ é possível filtrar as categorias de lawtechs. Já são hoje mais de 200 empresas. ” 

Quais são os pilares da inovação jurídica?

“Existem alguns componentes que precisam estar juntos e muito bem alinhados. O primeiro deles é a cultura. Quem quer implementar tecnologia precisa se unir à pessoas com esse mesmo mindset e estar aberto à colaboração. 

Outro ponto é ter uma gestão 4.0. Usar metodologias ágeis para a gestão de projetos, legal design thinking, OKRs para definição e acompanhamento de metas, pesquisa de NPS e métricas de desempenho do negócio como o LTV, por exemplo. 

A dica é não ficar esperando pelo mundo ideal. Quando se trata de tecnologia, o ‘feito’ é melhor que o ‘perfeito’. As soluções devem funcionar muito bem de forma integrada. 

Inovação não é topdown. Inovação não é algo ‘mandado’. É preciso envolver os times. Começar pequeno, fazer o famoso MVP (Produto Mínimo Viável) e depois ir ampliando. Em pouco tempo, o escritório ou departamento estará transformado.”

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Essa palestra fez parte do conteúdo do B2B Legal Conference 2020, o maior evento online jurídico da América Latina, que contou com mais de 15 palestras com experts da área e discutiu as transformações do setor e como os profissionais podem acompanhar as mudanças.

Publicado por Vanessa Araujo

Vanessa Araujo é jornalista formada há mais tempo do que gostaria de admitir. No decorrer de sua jornada, trabalhou em diversas frentes da comunicação de empresas e agências de todos os portes e segmentos. Para ela, o mundo tech é a base que melhora as relações humanas e "simplicidade" é a palavra que se traduz em todos os conteúdos que desenvolve. E, apesar de saber que o mundo tecnológico de hoje é repleto de escolhas, prefere não assistir Netflix.


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