Inovação no mercado jurídico: mudanças e tendências para o futuro

Publicado em 3 de agosto de 2020

Capa palestra liberato

Durante o Legal Conference 2020, o sócio e CSO da Aurum, Fernando Liberato, discutiu a inovação no mercado jurídico, especialmente sobre a inclusão da tecnologia nas demandas da área. Para ele, o novo cenário trazido pela pandemia é uma excelente oportunidade para que departamentos jurídicos e escritórios de advocacia acelerem seus projetos de transformação digital.

Quem é o palestrante

Fernando Liberato é sócio e CSO da Aurum, uma das mais respeitadas empresas de tecnologia para a área jurídica – desenvolvedora do Astrea e do Themis – com 26 anos de mercado. 

Como foi a inovação na Aurum?

Ao longo dos anos, as trajetórias de Liberato e da Aurum foram marcadas pela reinvenção, tornando-se exemplos de inovação em si. 

Ele começou sua carreira na Aurum há 15 anos na área técnica, como programador. O rápido crescimento da empresa foi uma oportunidade para que Liberato se tornasse sócio. 

No ano de 2008, a empresa expandiu os negócios para o Rio de Janeiro. Já em 2010, criaram uma spin-off, em Florianópolis-SC, para o atendimento de um novo mercado. Em 2015, o novo produto ganhou tração e a spin-off passou por um processo de fusão junto aos negócios da Aurum. 

Nessa oportunidade, os sócios perceberam que uma empresa com mais de 20 anos de vida era capaz de se reinventar, a partir de práticas de startups. E a boa experiência deu forma à vontade de inspirar o mercado jurídico. 

O novo contexto deu vazão ao Aurum Summit, evento com a proposta de discutir o futuro da advocacia. A estratégia deu certo e a tração gerada por essa e outras ações culminaram na venda da Aurum em 2019 para a Vela Software, empresa subsidiária do grupo canadense Constellation Software Inc..

Na ocasião, Liberato deixou a sociedade da empresa e passou a comandar a área de vendas. 

De olho no futuro da inovação na área jurídica, o CSO diz que o momento atual trouxe um panorama oportuno para que as empresas acelerem seu processo de inovação e garantam sua sobrevivência. 

Para ele, é a hora de pisar no acelerador e completar de vez a transformação digital, colocando em prática os planos até então previstos para 5 ou 10 anos. 

“Esqueça o glamour da palavra ‘inovar’ e faça sua inovação de verdade”, comenta. 

A conversa completa com Fernando Liberato você assiste aqui:

Considerando sua experiência na Aurum, como você avalia a evolução dos departamentos jurídicos em termos de inovação?

“Ao longo de 15 anos foi possível assistir muitas transformações. Passamos de um cenário antigo sem nenhum contato com tecnologia para um mais atual, em que até é possível ver advogados que estudam programação. 

Do uso do Word, passamos para as planilhas, até chegarmos aos softwares jurídicos. Agora estamos vivendo a era dos KPIs e dashboards. Ao usar tecnologia e inteligência, a gestão se tornou preventiva, deixando de ser reativa. 

A inovação deve sempre olhar para frente para construir um novo mundo. Quem se volta ao passado tem uma probabilidade grande de fazer mais do mesmo. 

Neste momento, já é possível ver empresas aplicando processos extremamente diferentes, seja partindo para um modelo de ODR (Online Dispute Resolution) – que visa evitar levar demandas ao judiciário – até a adoção de medidas mais eficientes para mitigar o litigioso. 

Vivemos a era da experiência. Então, por que não oferecer a melhor experiência, mesmo quando estamos tratando de uma situação que não é a melhor do mundo? Por que não é possível trabalhar para que uma pessoa deixe de ser uma detratora para ser uma promotora de sua empresa?

É isso que fazemos dentro da Aurum e, também, o que incentivamos que o mercado faça, mesmo em se tratando de um mercado tradicional como é o jurídico no Brasil”.

Quais seriam os principais marcos de inovação para o mercado jurídico dos últimos anos? 

“Até 2010 havia uma gestão reativa. Em sua maioria, os departamentos jurídicos terceirizaram os controles dos processos, assumindo apenas o gerenciamento dessa operação. 

Embora esse modelo seja ineficiente para os tempos atuais, naquela época era o melhor método, sendo que a tecnologia era aplicada apenas para a garantia de comunicação entre os escritórios e departamentos jurídicos. 

A partir de 2012/14, houve uma mudança na qual os departamentos jurídicos internalizaram novamente boa parte da gestão de processos. A partir disso, surge um novo horizonte em busca da gestão de produtividade. 

Como esse movimento de ‘voltar com as demandas para casa’, o departamento jurídico deixa de ser visto como uma área geradora de custos, que apenas cuidava para reduzir o número de processos, e passa a atuar de forma mais preventiva, se tornando uma área geradora de receita, ao apoiar os negócios da empresa. 

Em 2015, surge um ‘novo direito, no qual o jurídico deixa de responder apenas como uma área técnica. Para isso, corta procedimentos extensos e, se junta às startups, passando a responder às demandas com um simples ‘sim’ ou ‘não’. 

Neste momento estamos vivendo a era da informação. Afinal, não tem como ignorar o volume de dados do judiciário. Mas, sim, é preciso fazer um bom uso deles”.

Como está hoje o uso da informação dentro do jurídico para a tomada de decisão?

“No mundo jurídico existem várias formas de olhar para as informações disponíveis. Imagine uma empresa que consegue analisar todo o seu histórico na justiça. Ela poderá entender o funcionamento como um todo e saber qual processo anda mais rápido, os custos envolvidos e ainda se comparar aos seus semelhantes/concorrentes.  

Ter acesso a esses dados permite à uma empresa uma estruturação financeira, além de uma previsão sobre o tempo duração de um processo. De posse disso, permite a ela tomar medidas preventivas e reagir mais rápido, conforme o movimento do mercado. 

A informação e a tecnologia são grandes agentes transformadores e devem ser usados a favor do seu negócio. Hoje já é possível conhecer as ações no momento em que ela são distribuídas. E isso, além de reduzir o risco de ser julgada à revelia, também permite que um acordo seja feito em poucas horas. 

Portanto, se uma empresa já tem mapeado o tipo de ação e a postura habitual do mercado, ela diminui os custos que seriam gerados com a defesa, isso sem falar o quanto essa rapidez melhora a experiência do cliente.”

Como você vê o processo de inovação no mundo jurídico pós-pandemia?

“De modo geral, o mundo está se transformando em uma velocidade rápida. O mundo do direito, em si, sempre foi mais tradicional e ainda é muito apegado à cerimônias. 

Quem ainda não fazia o uso de uma metodologia ágil para tomar uma decisão, sem usar abordagens como Legal Design e Visual Law, está ficando para trás a ponto de não conseguir reagir à quantidade de novas demandas judiciais que surgirão a partir de agora. 

Isso ocorrerá, pois vamos viver uma crise sem precedentes, com alto índice de desemprego, e na qual uma nova medida provisória é colocada no mercado, sendo cassada logo em seguida. 

Portanto, dentro da área trabalhista teremos que resolver uma demanda gigantesca sobre temas ainda muito novos. Quem inovou e já usa Legal Design para resolver problemas sairá na frente, pois terá à disposição um método criativo para tratar de questões ainda desconhecidas. 

Quem estava um passo à frente, reagirá mais rápido. Neste exato momento, essas empresas, provavelmente, devem estar conseguindo manter sua operação em pé, mesmo a distância, e já devem estar procurando iniciativas para crescer depois que isso tudo passar.

Quem não está nesse (patamar de inovação) ainda deve estar no começo de sua transformação digital, que quando ela é feita de forma compulsória, é um processo muito difícil, pois é necessário lidar com a questão da aceleração do tempo para essa reação. O desafio é gigantesco, mas possível.

Minha dica para essas empresa é: foquem nos conteúdos que estão sendo lançados hoje no mercado como as lives, webinars e certificações. Se há algum tempo disponível hoje, ele deve ser usado para recuperar o tempo perdido. É preciso se preparar para ser mais produtivo e usar a tecnologia a favor do negócio”.  

Como você vê a consolidação das empresas provedoras de ferramentas tecnológicas aplicadas ao universo jurídico?

“Vemos essa consolidação acontecendo em todos os mercados. Agora é o momento das lawtechs. 

No radar da AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs) é possível ver um crescimento expressivo dessas empresas nos últimos anos. Hoje, são mais de 500 empresas associadas.  

É natural que surjam muitas empresas que resolvam pequenas partes das dores e que, por sua vez, grandes players façam uma consolidação desse mercado.

Foi isso que aconteceu com a Aurum quando foi adquirida pela Vela, que tem como proposta consolidar a vertical de Legal e entregar soluções para o mercado em escala global. Talvez, as empresas menores não consigam passar por esse momento de crise e desapareçam um pouco desse cenário de consolidação”.  

Quer ver mais conteúdo sobre gestão jurídica?

Essa palestra fez parte do conteúdo do B2B Legal Conference 2020, o maior evento online jurídico da América Latina, que contou com mais de 15 palestras com experts da área e discutiu as transformações do setor e como os profissionais podem acompanhar as mudanças.

Publicado por Vanessa Araujo

Vanessa Araujo é jornalista formada há mais tempo do que gostaria de admitir. No decorrer de sua jornada, trabalhou em diversas frentes da comunicação de empresas e agências de todos os portes e segmentos. Para ela, o mundo tech é a base que melhora as relações humanas e "simplicidade" é a palavra que se traduz em todos os conteúdos que desenvolve. E, apesar de saber que o mundo tecnológico de hoje é repleto de escolhas, prefere não assistir Netflix.


Artigos relacionados