Carreira no jurídico em 2020: de startups a corporações, o que os talentos estão buscando?

Publicado em 29 de julho de 2020

Capa palestra jurídico

Durante o Legal Conference 2020, a head de Projetos Corporativos na Gama Academy, Natália Garcia, discutiu as novas oportunidades de carreira no departamento jurídico, a partir da atual gestão jurídica em grandes corporações e startups.

Quem é a palestrante?

Natália Garcia é head de Projetos Corporativos na Gama Academy e Sócia da Foxbit, uma das maiores exchanges de criptoativos do Brasil. É especializada nas áreas de direito digital, bancário e financeiro, com atuação em grandes bancos na área, tanto do varejo como no atacado e fintechs. Graduada em Direito pela Universidade Estadual Paulista, também é especialista em direito empresarial pela Faculdade Getúlio Vargas.

Entre escritório de advocacia, grande empresa e startup: por onde Natália passou

Quando se formou em direito, Natália tinha como objetivo trabalhar em uma grande corporação. Começou a carreira em um escritório de advocacia, no qual atendia diversos clientes na área de tecnologia, entre eles, algumas startups. Embora o interesse pela área tecnológica estivesse aumentando, o desejo de integrar uma grande empresa ainda existia. 

Conseguiu uma colocação no Itaú Unibanco, no qual fez parte de um programa de destaque chamado “Franquia”, que foi reconhecido e premiado pela justiça brasileira. Dentro do banco, teve ainda a oportunidade de integrar outros projetos e fazer parte da equipe do Itaú BBA, que atende investidores institucionais e as empresas com o mais alto faturamento do grupo.

Em 2017, participou do Gama Experience, programa voltado para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades técnicas e comportamentais mais requisitadas pelo mercado digital. A partir dessa experiência, ingressou na Foxbit e após seis meses, se tornou sócia da empresa, assumindo o departamento jurídico. 

Lá, passou por desafios como a internacionalização de empresa, recebimento de investimentos e lidou com projetos de lei para a regulação de ativos digitais. 

Hoje, está à frente do departamento jurídico da Gama Academy.

Com experiência tão diversificada, durante a conversa, Natália fez uma análise do comportamento e dos desejos dos talentos do mercado jurídico atual. Ela também falou sobre como os gestores estão se preparando frente às constantes evoluções que estão acontecendo. 

Assista abaixo a palestra na íntegra.

Quais são as perspectivas de carreira dentro do departamento jurídico de uma empresa de médio ou grande porte?

“As perspectivas são diferentes. Hoje, o profissional pode escolher entre ir para uma empresa grande, para um escritório de advocacia ou para uma startup, por exemplo.

Hoje em dia, quem sai de uma academia de direito tem como opções prestar concursos ou participar de processos de trainee. 

Quando me formei, existia uma crença de que a única forma de entrar em uma empresa grande era via trainee ou estágio, mas isso não é verdade, existem outras portas de entrada. Eu mesma ingressei no Itaú como advogada júnior. 

Em uma empresa menor, o profissional será mais generalista. Já uma empresa grande pode exigir que o profissional se torne especialista em uma determinada área, ao passo que ele poderá trabalhar em projetos de grande importância e ter o respaldo de uma ampla gama de benefícios. 

Mas, dentro dessa estrutura maior, o profissional terá de subir degraus pré-definidos para avançar na carreira. Já dentro de uma startup, ele pode ser promovido em um ritmo mais acelerado.” 

Como é a realidade de um departamento jurídico dentro de uma startup? 

“Não vou iludir ninguém. É uma bagunça (risos), pois não há nada estruturado. É preciso trabalhar muito e aprender coisas novas. 

A maioria das startups tem pessoas muito jovens em cargos de diretoria, pois eles são, muitas vezes, os próprios founders. Isso tende a mudar quando entram os fundos de investimento, o que faz com que a equipe passe por um processo de seniorização. 

Eu mesma passei de advogada do Itaú para diretora jurídica no período de seis meses. Tive que aprender muitas coisas ‘na marra’, mas com vontade e garra é possível entregar os esperados.

Na Foxbit, não existia nenhum fluxo definido. Tudo foi sendo construído. Mas essa foi uma das melhores opções que já fiz na carreira. Acredito que o maior benefício de estar em uma startup é ser generalista, é preciso saber um pouco de todas as áreas. 

Hoje em dia, é bastante comum que profissionais e até gestores façam um ‘slash de carreira’ (transições dentro ou fora da área de formação). Espera-se que isso aconteça cinco ou seis vezes durante sua jornada.” 

Quais são os desafios e os benefícios principais de trabalhar em um departamento jurídico de uma startup?

“Um dos maiores benefícios é a construção das coisas (processos e fluxos). Uma empresa grande já tem processos criados, que apenas devem ser revistos periodicamente. Mas, em uma startup, essa estrutura simplesmente não existe. O profissional precisa ser bastante autônomo. 

Os desafios são diversos. Um deles é encontrar bons parceiros, que entendam sobre o funcionamento do seu modelo de negócio para lhe ajudar com a rapidez necessária. (De olho nesse mercado) alguns escritórios de advocacia já estão trabalhando com fees mais baratos para startups e fintechs.”

O que atrai os jovens talentos para os departamentos jurídicos de uma empresa?

“Temos uma pesquisa com indivíduos da geração X, Y e Z, que atuam em diversas áreas, em que é possível verificar que os profissionais não estão mais atrás de salário ou de qualquer atributo considerado como ‘tradicional’, mas sim de propósito, empoderamento, ownership e flexibilidade no trabalho. 

Com a evolução do mercado de trabalho, verificamos que as pessoas farão mudanças de carreira mais vezes ao longo da vida. E hoje algumas das soft skills mais importantes são a ‘adaptabilidade’ e o poder de “reaprender a aprender” sempre. 

O jovem que sai da faculdade de direito quer trabalhar com tecnologia, já que o direito digital ainda não está totalmente descoberto e, sim, em constante evolução. 

O direito é por definição ‘atrasado’ pois não há como legislar sobre algo que não se tem ideia de que surgirá, mas ele vem acompanhando as novas demandas cada vez mais rápido. Assuntos como blockchain, big data e inteligência artificial estão na pauta de hoje. 

O jovem não quer esperar três anos para ser promovido. Existe uma ansiedade para entregar resultados e ser reconhecido. Ele quer ter liberdade e flexibilidade para trabalhar, inclusive, para se vestir. De modo geral, ele não está atrás de salário. O que mais atrai o jovem no trabalho é o (senso de) ownership.”

Qual dica de carreira você daria para quem está começando?

“Estudar sempre. As pessoas acham que basta fazer faculdade, pós-graduação, MBA e acabou, não precisa estudar nunca mais. O mundo de hoje exige que você esteja constantemente aprendendo. 

A dica que eu daria para quem está saindo da faculdade é: sempre aprenda algo novo sobre um tema ou mercado específico, porque o mercado exigirá isso. 

A minha segunda dica é: se atualize, saia da ‘caixa do direito’, se aproxime das pessoas de outras áreas, com carreiras diferentes. Essa é uma dinâmica interessante que existe dentro da startup e ajuda a dar uma visão sistêmica do todo”.

E quais seriam as dicas para que os gestores atraiam os melhores talentos para as empresas?

“A minha dica é: ouça as pessoas e deem feedbacks constantes aos seus colaboradores. Gosto da frase ‘a cultura é a gestão da mensagem’. As pessoas devem saber onde é preciso melhorar. Não importa o tamanho da sua equipe, dedique um tempo para isso.

Ser gestor hoje em dia é um grande desafio, pois é preciso se dividir entre as atividades estratégicas, cuidar do time e, às vezes, ser operacional. Dentro do time, as pessoas são o maior ativo. Converse constantemente com as elas. Reconheça-as. 

Se fala muito em meritocracia, mas é preciso pensar se ela está sendo aplicada dentro do time. Essa é uma dica preciosa para todos os gestores”.

Qual é o stack de ferramentas voltado para o jurídico que vocês usam na Gama Academy?

“Usamos a terceirização de um escritório jurídico parceiro, que considero uma ‘ferramenta’ preciosa. 

Como ainda não temos processos dentro da Gama, vou citar uma (ferramenta) que usávamos na Foxbit para monitorar processos, a upLexis. Ela notifica diariamente sobre os processos que estavam sendo distribuídos. Para o gestor que está começando é importante monitorar o seu pipe cível. Essa ferramenta é bastante útil também para a área de compliance. 

Também utilizo o Asana para acompanhamento de tarefas, pois toda a equipe trabalha com (metodologia) ágil. Também usamos a Clicksign para assinatura de (documentos) online. Ainda são poucos, mas conforme a empresa e o departamento jurídico vão crescendo, é preciso aumentar o uso de ferramentas tecnológicas. “

Quer ver mais conteúdo sobre gestão jurídica?

Essa palestra fez parte do conteúdo do B2B Legal Conference 2020, o maior evento online jurídico da América Latina, que contou com mais de 15 palestras com experts da área e discutiu as transformações do setor e como os profissionais podem acompanhar as mudanças.

Publicado por Vanessa Araujo

Vanessa Araujo é jornalista formada há mais tempo do que gostaria de admitir. No decorrer de sua jornada, trabalhou em diversas frentes da comunicação de empresas e agências de todos os portes e segmentos. Para ela, o mundo tech é a base que melhora as relações humanas e "simplicidade" é a palavra que se traduz em todos os conteúdos que desenvolve. E, apesar de saber que o mundo tecnológico de hoje é repleto de escolhas, prefere não assistir Netflix.


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