Branding, a alavanca subestimada pelos profissionais de growth

Publicado em 11 de outubro de 2022

Crescimento pelo produto, data analysis, gambiarras de tecnologia e atalhos para impulsionar o alcance costumam ser as principais estratégias de um profissional analítico de growth. Já quando pensa na marca, ele (ela) entende como uma iniciativa importante, mas a coloca na retaguarda das principais ações para crescimento do negócio.

Essa é uma premissa comum que adquiriu relevância nos últimos tempos. Na década de 90, o marketing digital era embrionário e voltado para resultados de tráfego dos sites. Mas com o surgimento do Salesforce, em 1999, e do Google Adwords, nos anos 2000, ele passou a ter mais impacto nas empresas e desde então vem ganhando cada vez mais destaque nas estratégias. São resultados objetivos, de curto prazo, com métricas claras e facilmente usadas para tomadas de decisão.

Tal avanço questionou a publicidade tradicional e a marca acabou pegando carona, deixando uma sensação geral de que é algo acessório – um movimento derivado de uma atual supervalorização das ciências exatas aplicadas em marketing, em detrimento das humanas. Cada vez mais essa relação oposta precisa ser dissolvida e a união entre as áreas usada como impulsionadora da performance. Com esse texto, quero levá-lo (a) a refletir sobre como o branding pode ser um grande aliado para potencializar a aceleração de negócios e como isso pode ser mensurado.

Direção para acelerar a velocidade

Conversando com alguns colegas estrategistas de growth, percebi que objeções comuns quando se fala em branding são o custo e a morosidade do projeto, deixando a sensação de que é uma iniciativa contraprodutiva — esse viés de confirmação acaba criando um bloqueio para que conheçam os benefícios e oportunidades que tem o estudo de marca. Pensando nisso, apresento aqui um conceito geral sobre a gestão de marcas, além de dicas práticas sobre como ela pode impulsionar o crescimento de um negócio.

Dada a fragilidade de um projeto de startup em sua fase inicial, a proposta não é que o estudo seja feito a partir do primeiro dia, mas que todos tenham ciência da profundidade e potência da estratégia. Falo aqui do poder que uma marca bem construída tem e como esse direcionamento que está presente em todos os pontos de contato com o público pode potencializar o crescimento.

A ideia é levá-los a pensar que unir a orientação pela marca às ações de growth pode antecipar os resultados e o atingimento da north star. Para isso, vou começar apresentando de forma breve o que é o branding.

Definição de branding de forma prática 🤓

Explicando de forma simples para reter na memória, branding é a gestão da marca e a marca, nas minhas palavras, é aquilo que traduz a experiência com um negócio de forma sintetizada em sua mente. A marca é relacional, percebida de jeitos exclusivos por cada um. Ela é pensada para criar e nutrir uma conexão com o seu público a partir de uma identificação, o que vai muito além de resolver necessidades com produtos ou serviços.

Por exemplo:

  • Para algumas pessoas, a Apple significa sucesso, status.
  • Para outras, gadgets com uma bela estética minimalista.
  • Para outras, ainda, são produtos bons, mas que não valem o preço por existir no mercado outros de igual, ou melhor performance a um custo menor.

Estamos falando de sensações percebidas, que podem ser positivas ou não, e é por isso que as marcas precisam ser construídas a partir do olhar para o seu público e estar constantemente se comunicando com ele. Essas sensações vão muito além da estética e envolvem a postura e comunicação de uma marca de forma geral, incluindo como ela se posiciona de forma ativa e reativa a acontecimentos ligados a ela.

A marca reflete a essência de uma organização, que sustenta todas as suas decisões e que a faz se relacionar com a comunidade. E o que faz a marca ser forte é sua história ser contada com coerência e consistência.

Tive a oportunidade de coordenar projetos de posicionamento e reposicionamento de marcas em parceria com agências especializadas. Ao contrário do que muitos ainda acreditam, o estudo vai muito além da identidade visual. Estamos falando de um trabalho aprofundado e amplo, com muito suor e nenhum chute. Apesar de ter várias metodologias, podemos eleger 3 pontos principais para um branding ser feito com seriedade: análise da estratégia e cultura do negócio, definição de estratégia de posicionamento e, por fim, a definição da identidade visual.

Como o branding impulsiona a estratégia de growth 🚀

Apresentados os conceitos básicos de um bom trabalho de branding, trago 4 formas práticas para ele impulsionar a estratégia de growth:

1️⃣ TESTES DE ANÚNCIOS MAIS PRECISOS E COM MELHOR RETORNO

Com a estratégia de branding definida, o nível da sua base de testes de anúncios fica muito mais aprofundado. Você passa a ter uma boa noção do interesse do público, de como se comunicar com ele e o que pode chamar mais a sua atenção. O estudo de branding fez o trabalho de pesquisa de mercado, da concorrência e com o público-alvo – ele já vai te entregar a direção e agora é só aplicar.

O material de posicionamento da marca que o branding produz é justamente um manual que te direciona com relação à postura e aos argumentos gerais que você vai usar nas campanhas. Já o brand guide traz a referência estética. Então, a criatividade vai focar muito mais em variações do que em conceitos.

Na prática, você tem melhores segmentações a partir das pesquisas feitas para conhecer melhor quem quem é o seu público. Também tem mais velocidade para produzir os criativos, pois há uma direção de arte e argumentação pré-definidas. Logo, há mais precisão nos testes e, consequentemente, mais espaço para explorar gatilhos de decisão como contraste de cores e “copys” de persuasão nos CTAs (call to action).

2️⃣ REDUÇÃO DOS CUSTOS DE AQUISIÇÃO

O branding aumenta muito as chances de diminuir o CAC – custo de aquisição de clientes. Na verdade, o que faz isso acontecer é a combinação entre branding e o relacionamento que você cria a partir dele, como o marketing de conteúdo, a criação de comunidades, a realização e participação de eventos, etc.. São diversos canais de aquisição possíveis de serem explorados (vários deles são abordados no livro clássico de growth, Traction) e todos podem ser potencializados pela estratégia de marca.

A gestão da marca te leva a um público interessado que, muitas vezes, torna-se um público fiel. Isso significa que os custos com anúncios pagos diminuem muito e muitas vezes até desaparecem, o mesmo vale para custos com ações comerciais.

Com uma marca forte e conhecida pelo seu público, você tem uma jornada de compra mais rápida. Digamos que a primeira etapa do funil está contemplada e cria-se a chance do cliente em potencial recorrer a você de forma ativa.

“Mas como mensurar esse impacto se a marca é algo tão intangível?”

Tá aí a falsa crença que precisa ser discutida e o acompanhamento que deve ser levado cada vez mais para as análises de performance.

O branding é mensurável, sim. Claro que não em tempo real e de forma precisa como as métricas clássicas do marketing digital, pois trata-se de avaliação de relacionamento e não de reação. Mas é possível fazer recortes e comparações para identificar as mudanças de comportamento do público perante a marca.

Uma forma mais tradicional de acompanhamento dessa conexão é a verificação da opinião e sentimento do público em relação aos atributos (características principais do posicionamento) pelo BHT – Branding Health Tracking, o que requer que seja feita uma pesquisa de mercado. Esse é de longe o caminho mais recomendado, mas muitas vezes a empresa não prioriza ou não tem orçamento para contemplar tal iniciativa.

Mas não significa que não existam formas mais práticas e menos custosas de se fazer essa mensuração – claro que não substitui as análises tradicionais. O resultado é mais amplo, mas a comparação longitudinal possibilita alguma interpretação do impacto da estratégia perante as métricas de crescimento. Claro que é uma análise de baixa acurácia por entrarem no jogo outras ações de marketing e vendas, mas se não houver um grande desvio de padrão nessas frentes, é possível entender algum impacto.

Por exemplo, trago aqui um recorte desse artigo da PlanBeyon, que traz um passo a passo simples prático para analisar o efeito do branding no CAC. É basicamente olhar para o CAC antes da estratégia de marca e algumas vezes depois, com periodicidade para comparação do impacto.

A comparação pode ter um período de análise ainda maior, uma vez que um trabalho de posicionamento de marca não é algo feito a curto prazo e cada negócio tem sua dinâmica específica de venda. Neste caso, está sendo considerado uma jornada de compra rápida e não complexa como B2B, por exemplo.

Growth

3️⃣DIFERENCIAL COMPETITIVO E TICKET MÉDIO MAIOR

Quando as pessoas se conectam à marca, elas estão dispostas a comprar mais, pagar mais e tomar decisões mais rápidas, baseadas em seus sentimentos. Depois, tendem a racionalizar essa decisão para justificar o comportamento. Estamos falando de valor percebido, que contribui diretamente para a oportunidade de aumentar o preço do produto ou serviço.

Para se distanciar cada vez mais de um preço commodity de mercado, é preciso que a marca invista nessa geração de valor. No post original da Beloved Brands, discute-se como as pessoas, ao se conectarem emocionalmente com uma marca, tendem a tomar decisões de compra baseadas em seus sentimentos e depois racionalizam essa escolha.

4️⃣ CREDIBILIDADE, AUTORIDADE E CO-BRANDING

Pessoas gostam de comprar de marcas que conhecem e em que acreditam e confiam. A consistência da mensagem em diversos pontos de contato contribui para o awareness, que em tradução livre trata da consciência e expansão dessa marca. Isso contribui para o aumento da autoridade e reforça a credibilidade.

Se essa marca atinge um nível de conhecimento amplo, ela se sobressai no mercado e torna cada vez mais difícil e custosa a publicidade de novos entrantes. Além disso, como já ilustrado aqui, um bom posicionamento de marca analisa os territórios explorados pela concorrência e identifica oportunidades de diferenciação, o que contribui ainda mais para esse destaque.

Uma forma de alavancar essa percepção de relevância é o co-branding, parceria em que duas marcas se beneficiam de sua sinergia e a exploram em uma comunicação ou campanha compartilhada. Somam-se as forças e divide-se os esforços. O resultado é a criação de buzz e de uma nova relação emocional com o público. Alguns exemplos de sucesso de co-branding são quando a Nike anunciou o lançamento do Apple Watch +, a fusão entre Omo e Comfort e o protagonismo da GoPro nos eventos da RedBull.

Uma estratégia de co-branding pouco provável é entre concorrentes, que podem se unir para serem ainda mais lembradas fortalecer o seu nicho, como algumas vezes em que Burguer King e McDonalds dialogaram em prol de uma causa.

Cuidado com as armadilhas ⚠️

Não se esqueça de que branding não é só identidade visual. Não adianta, depois de todo o trabalho de marca realizado, você sair criando o que bem entender sem respeitar a essência da marca. Cá entre nós, você até pode testar ousar na linguagem, promessas e em detalhes criativos de anúncios se achar que existe uma oportunidade, mas é fundamental o fazer com bom senso e coerência.

Infelizmente existem muitas agências aventureiras e irresponsáveis que dizem que estão posicionando a marca apenas olhando para dentro de casa. Alerta vermelho para isso. É preciso respeitar os 3 pontos principais citados ali em cima: olhar para si, para onde você está e para o seu público.

Insisto que não investir em branding pode colocar a sua performance em risco com aumento de custos de aquisição.

Por exemplo, os anúncios digitais podem ter uma sequência inicial de boa performance, mas em algum momento eles atingem o público em sua totalidade. Sem uma estratégia de marca, esses argumentos não tem uma profundidade que garanta o interesse contínuo. Então esses anúncios atingem um efeito platô e param de gerar bons resultados como antes – os algoritmos entendem o comportamento e automaticamente vão reajustando e aumentando o preço.

Concluindo

A marca se manifesta para o público com aspectos racionais, explorando qualidades e benefícios, e emocionais, de uma forma relacional. O estrategista de marketing precisa olhar para além desse relacionamento e enxergar a função técnica desse comportamento do branding.

Quando pensamos em mensuração, os engenheiros de performance estão acostumados com resultados rápidos e precisos e muitas vezes vem daí a desconfiança de que o acompanhamento dos resultados de branding são inconclusivos. Mas aplicando a mensuração de forma séria, podemos, sim, analisar o impacto real da estratégia de marca sobre os resultados, ainda que em um nível diferente de acurácia.

A marca dá orientação e impulsiona a estratégia de marketing, e deve ser colocada no mesmo nível de importância nas empresas. Precisamos fazer esse movimento de conscientização para unir frentes injustamente ramificadas e potencializar a caminhada para uma performance de sucesso.

E aí, contribui para a sua estratégia? Me conta como o branding impacta o que você faz.

Publicado por Lighia Fernandes

+9 of experience in communication, inovation and strategy design to growth companies and projects. Throughout my career, I have developed skills in business communication, project leadership restructuring, internal and external content management, relationship with the press, integrated communication planning, sponsorships and analysis of indicators like MQL, CAC, LTV and ROI/ROAS. I have also coordinated events, conducted briefings in relationships with agencies, as well as implementation and analysis of effective marketing. Experience as a marketing communications manager at Copel, the biggest company in Parana (electric energy and telecommunications), and as SME and startup consultant. #inboundmarketing #outboundmarketing #digitalmarketing #ABM #accountbasedmarketing #googleads #facebookads #linkedinads #dataanalysis #growthhacking #growthmarketing


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